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Poema "A jornada de uma Clarividente"


As fotos na parede
Contam sua trajetória
Enfeitam a Casa Grande
Recanto da memória
Foi ali que ela viveu
Hoje virou um museu
E guarda sua história


Parecia uma cigana
Vivia toda enfeitada
De brincos e pulseiras
A boca avermelhada
Era uma mulher morena
Como aquelas do cinema
De madeixas onduladas


Os sulcos na pele
Ditam os anos percorridos
Em caminhos tortuosos
Nunca antes conhecidos
Mergulhou de peito aberto
Em um destino incerto
Como havia decidido


Seu olhar adiante
Construiu um império
E nos faz imaginar
Aquele mundo etéreo
Pois agora vou contar
Solte a mente pra voar
Nesta história de mistério


Mais um dia de trabalho
O sol vem lhe avisar
Ela sobe no caminhão
Como se fosse um altar
Sua lida é um enduro
Na cidade do futuro
No cerrado a desbravar


No caminho, a tragédia
“Ó, meu Deus, o que eu fiz?
Seu guarda me ajude,
Atropelei um infeliz”
“Não há sinal de acidente,
Procure um terreiro urgente”
Disse o guarda como quis


Foi o passo inicial
De uma longa jornada
Neiva ainda viveria
Confusa e angustiada
Sinais de insanidade?
Poder da mediunidade?
A dúvida será sanada


Nascida em Sergipe
Foi em Goiás que cresceu
Com 17 estava casada
Aos 24 o marido perdeu
São 4 filhos pra criar
Beto, Carmem, Vera e Oscar
A afilhada recebeu


“Moça boa” era Gertrudes
Fiel por toda a vida
Ajudou Neiva a poupar
Os filhos da vida sofrida
De costureira a ambulante
Até motorista itinerante
Foi Neiva pela vida


A convite de amigo
Foi ao Planalto Central
Não faltaria trabalho
Na construção da capital
De lá pra cá dirigia
Enchendo a carroceria
De candangos e material


Motivo de deboche
Preconceito quase hostil
Nada iria atingir
Seu impulso juvenil
Aos 32 estava em vista
Reconhecida por revista
Como a primeira do Brasil


Primeira caminhoneira
Contou a “Quatro Rodas”
Mas sem eira nem beira
Sentiu puxarem a corda
Seu destino mudaria
Com espíritos viveria
Uma nova vida acorda


As visões aumentavam
Fugir, rezar, dizer amém?
Neiva muito questionava
Vale a pena ir além?
Recebia obsessores
E espíritos promissores
Com ajuda de Mãe Neném


O espírito Mãe Yara
Foi muito clara e franca:
“Sem luta não há evolução
Sem amor a vida é manca
Tua missão é divina
Vai criar uma doutrina
És missionária de Seta Branca”


Ele é um espírito de luz
Há milênios tem a missão
De socorrer a humanidade
Nos momentos de transição
Já viveu no planeta Terra
Livrou o povo de guerra
Em uma encarnação


Neiva perpetuaria
Pai Seta Branca e seu saber
A doutrina de Alan Kardec
Começou a entender
A muitos ela ajudava
De uma estrutura precisava
Nascia o Vale do Amanhecer


Toda a orientação
Valores e aprendizado
Foram de um tibetano
Umahã era chamado
Com o mestre no Tibet
Via um caminho de fé
Ele guiava o traçado


Neiva, a clarividente
Fazia o transporte
Seu espírito viajava
Ia para outros nortes
Gastava suas energias
Quase sempre adoecia
A saúde era sem sorte


Cooperação e caridade
A família a valorizar
Sentimento e dignidade
Missão de Neiva propagar
O Vale então crescia
A corrente se expandia
Até onde iria chegar?


Dizem que certa vez
Uma moça bem vestida
Chegou em seu carrão
Desceu esbaforida
“Meu cachorrinho morreu,
Era como um filho meu”
Insensatez desmedida


Tia Neiva percebeu
Que era grave o caso
A morte de um cachorro
Transformou-se num arraso
“Vamos atender com amor
Cada um tem sua dor
Ninguém merece descaso”


Na entrada já se vê
Muita pedra e alvenaria
É o Templo do Amanhecer
Várias cores irradia
Por fora, elipsoidal
Dentro, todo o ritual
Onde a cura se inicia


Transitando pelo Vale
Estão Ninfas e Jaguares
Portando indumentárias
De Falanges singulares
Tem as gregas e ciganas
Egípcias, franciscanas
Divindades seculares


Eles vivem da missão
Ajudar a humanidade
Em busca da evolução
Da espiritualidade
Suportar todos os carmas
Essa é a grande arma
Pra alcançar a divindade


Os adeptos acreditam
Que à Capela retornarão
O planeta de origem
Onde logo chegarão
Um mundo evoluído
Que será usufruído
Por nova civilização


A doutrina se propagou
Por diversos países
Do Brasil ao Japão
Criando suas raízes
300 mil a difundir
Sempre devendo seguir
Da matriz as diretrizes


Neiva Chavez Zelaya
Persistia na caridade
Com um terço do pulmão
Aos 60 anos de idade
Até a gota final de ar
Manteve a força do olhar
Era a sua identidade


Nunca houve um domingo
Tão triste e silencioso
Tia Neiva deixava
Seu legado amoroso
Cumpriu sua missão
Deu sua colaboração
Por um mundo mais honroso



Isabel de Assis Fonseca e Luiz Prestes
,  2/23/2007.
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